Farnese de Andrade
Araquari, MG, 1926
Rio de Janeiro, RJ, 1996
Farnese de Andrade iniciou seus estudos em artes pela primeira vez depois de mudar-se para Belo Horizonte, em 1942, quando aprofundou-se em desenho na Escola do Parque, com Guignard, entre 1945 e 1948. Entre separação dos pais e tratamento de uma tuberculose pulmonar, ainda em 1948, estabeleceu-se no Rio de Janeiro com a mãe e começou a trabalhar como ilustrador para publicações. Em seguida, ingressou no Atelier do MAM-RJ para estudar gravura em metal. E é a partir de 1964 que começa sua pesquisa com objetos encontrados em praias e aterros do Rio de Janeiro. Desde então, o estudo da combinação de elementos descartados, ou segunda-mão, irá permear a sua investigação artística. É também durante esse período que iniciou duas de suas séries mais icônicas: “Obsessivos” e “Eróticos”.
Atuante numa época efervescente da história da arte no Brasil, quando o Movimento Concretista de Waldemar Cordeiro e Geraldo de Barros encerrava a fase Modernista, Farnese de Andrade rejeitava em fazer parte de qualquer pensamento teórico que limitava sua prática criativa. Trabalhava de maneira independente e seguindo um roteiro baseado na sua própria intuição e dúvidas existenciais, a partir de sua coleção particular de objetos. Justamente por manter-se afastado do cenário artístico, sua produção tinha pouca vazão para o mercado, acumulando-se em seu atelier, o que permitia ao artista a revisão constante dos trabalhos.
Na diversidade das lojas de antiguidades e depósitos de demolição do Rio de Janeiro, o artista encontrava as peças para a confecção de suas assemblages, como brinquedos antigos, armários, oratórios, caixas em madeira, imagens religiosas, fotografias, etc. Já carregado de histórias e memórias afetivas, cada um desses objetos era ressignificado pela criatividade de Farnese por meio de combinações extravagantes. A partir de 1967, passou a experimentar a aplicação de resina de poliéster transparente nos trabalhos. A maleabilidade desse material enquanto quente permitia que fosse manipulado e ainda conservava os mais perecíveis. Farnese é considerado pioneiro nessa técnica, que depois ficou mais difundida entre alguns artistas.
A investigação de Farnese sempre foi pautada no inconsciente, além de questionamentos sobre a origem da vida e o metafísico. Sua série “Obsessivos”, por exemplo, trazem o resultado de exercícios exaustivos de desenhos com bico de pena. Segundo o artista, “uma espécie de terapêutica para chamar o sono”, no começo, mas que ganhou corpo dentro de sua prática. O historiador Frederico Moraes foi um dos que melhor definiram a pesquisa de Farnese de Andrade, chamando-a de “arqueologia existencial”, ou seja, “(…) exercita sua memória, exorciza fantasmas, extravasa sentimentos, viabiliza sonhos, concretiza obsessões, revela recalques e repressões”.
Farnese de Andrade participou duas vezes da Bienal de São Paulo, 1961 e 1963, recusou o convite para a edição de 1969, aderindo ao boicote, além da Bienal de Veneza, em 1968, juntamente com Lygia Clark. Entre os anos de 1969 e 1975, ficou entre Rio de Janeiro e Barcelona.